sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Mexilhões e mexidas latinas


Fui a Bruxelas com o pessoal da Brazuca. A revista é distribuída também por lá, e isso acaba gerando uma rotina mensal de reuniões e afazeres diversos na cidade, capital ao mesmo tempo da Bélgica e da União Européia.

E eu descobri que há três coisas que todo visitante precisa provar: a cerveja, o chocolate e as moules frites. As cervejas e os chocolates belgas estão certamente entre os melhores do mundo, e é possível encontrá-los em qualquer lugar na cidade.

Já as moules frites são um caso à parte.

Também fáceis de achar, pois estão em todos os restaurantes do centro, a questão é simplesmente de escolher onde comê-las. Pra ter certeza de que estava tendo uma razoável amostra e, principalmente, para saciar minha porção Homer Simpson, pedi o prato duas vezes. Um em cada dia, claro.

Moules frites é uma modalidade de orgia culinária. Trata-se de uma panela enorme com mexilhões cozidos, acompanhados de uma nababesca porção de batatas fritas.

Sem precisar consultar o cardápio, todos pedimos esse prato. Pouco depois, a garçonete chegou com a monstruosidade em uma bandeja e a colocou sobre a mesa. "É muito!", pensei. Logo ela trouxe outros dois. Chocado, descobri que a porção tamanho gorila, que eu jurava ser coletiva, era individual.

Respirei fundo e encarei a tarefa. Comecei a traçar, um por um, aquele genocídio de mexilhões. Tenho certeza de que famílias inteiras foram dizimadas para um homo sapiens - eu - satisfazer a gula. E a verdade é que é muito bom.

Mas algo estava incomodando. Não era comida, claro, e sim a música. Das caixas de som do restaurante, Julio Iglesias sussurrava com sua voz de eterno latin lover. Tava duro aguentar aquilo. Tão duro que, olhando de relance, tive a impressão de ver uns dois ou três mexilhões fechando suas conchas. Eles iam ser comidos, mas escutar Julio Iglesias era certamente pior do que ir pro inferno dos frutos do mar.

- Senhora, seria possível trocar a música?
- Mas vocês não gostam dele?


A atendente fez bico e, contrariada, colocou numa rádio qualquer. Tempos depois, após uma verdadeira batalha, terminamos a refeição.

No dia seguinte, andando sozinho pelo centro, a fome bateu. Parei em um simpático (leia-se barato) restaurante e repeti a pedida.

- Moules frites, s'il vous plaît.


Assim que o prato pousou na mesa, como em um filme, alguém ligou a música ambiente. Entre uma mordida em mexilhão-avô e uma dentada numa batata, reconheci a voz que embalaria a minha refeição. E era ele, o mela-cueca mor, o pai espiritual do Wando, a trilha sonora da fabricação de bebês por todo mundo. Ele, Julio Iglesias.

Quase engoli a concha do mexilhão por engano. Por que cargas d'água aquilo acontecia de novo? Chamei o garçom marroquino.

- Senhor, seria possível trocar a música?
- Sinto muito, mas não dá.
- Por quê?
- Porque todo mundo aqui adora Julio Iglesias.
- E eu posso saber por quê?
- Você não entende? É que ele canta com uma mão aqui em cima, segurando o microfone, e outra aqui embaixo, segurando os bagos.


Nisso, o outro garçom, também marroquino, repetiu o gesto. Súbito me vi ali, sentado, com um mexilhão-primo na boca, enquanto os dois sujeitos seguravam seus próprios sacos e faziam um bizarro karaokê do cantor espanhol. Um deles utilizou uma faca como um falso microfone. Fiquei tão constrangido que enfiaria minha cabeça na panela de moules, se ela não estivesse tão quente.

Acabei de comer, pedi a conta e saí. No meu caderno de anotações escrevi em letras grandes: "Bruxelas - cerveja Leffe, chocolate Godiva e moules frites. Lembrar de pedir a última SEM Julio Iglesias acompanhando".

9 comentários:

Anônimo disse...

Argh!! Por que Julio Iglesias???
Dani, baixei a revista Brazuca pra dar uma praticada no francês, achei muito bacana! Fico feliz de você estar se virando bem por aí, amigo. Só estou com medo de você não voltar mais...
Saudade!
Beijão

Obs: Ficou faltando alguém tocar na minha festa de aniversário...

Felipe disse...

Hehehehe... Eu não curto mexilhão não. Mas que europeu do continente parece ter um péssimo gosto musical, isso é verdade.

Abs

VALHA!!! disse...

hahaha... Julio Iglesias arrasa sempre, nem que seja com nossos neurônios. Latin lover demais, ele. Eu nem sei o que é mexilhão. Isso teria outra denominação aqui no nordeste, será? Vou dar uma olhadela na Brazuca pra treinar o francês. =)

Abraços!

Anônimo disse...

Dani, com ou sem Julio Iglesias deve ser muito bom comer uma panela de mexilhões! Hum ... estou com água na boca ! Só não entendi as batatas fritas, combina?
Beijos e saudades de Mami

Chéri disse...

As batatas combinam perfeitamente! Só o Julio Iglesias é que não.
Beijos.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

...escuta... de acordo com a cultura popular, mexilhões são afrodisíacos, não?! Será que esse lance de fazer porção XL é uma medida do governo para aumentar os índices de natalidade do país???!!! Soube que a China usou o mesmo método há algumas décadas... hj os mexilhões são terminantemente proibidos por lá!! Sabe algo a esse respeito??! hehehehehehe

Bj!

(ah! obrigada pelo link!!)

Anônimo disse...

Olha, Daney, eu passo as moules frites, com ou sem Julio Iglesias. Mas a cerveja e o chocolate belgas me deram água na boca. Você provou os chocolates da nói raus (não lembro bem como escreve, vai na pronúncia)? Come uns bombonzinhos que parecem uma pirâmidezinha com a ponta colorida... ai, ai...

Anônimo disse...

Nababesca? Gente!!! Tive que consultar o dicionário dessa vez...