sexta-feira, 15 de maio de 2009

L'amour à la française

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Para ler escutando: Amour à la française (Do musical Imbécile)

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Duas historinhas de amor na França.

1. Des visages


Ainda deitados na cama, ele alisa os cabelos dela.

- Você tem as pernas da Brigitte Bardot.
- E você tem a boca do Jean-Paul Belmondo.
- Você tem o olhar da Catherine Deneuve em Os guarda-chuvas do amor.
- Gosto mais dela em A bela da tarde.
- Não tem problema. Você tem o olhar da Catherine Deneuve em Os guarda-chuvas do amor quando acorda. E o de A bela da tarde antes de ir dormir.
- Quando me diz isso, você tem o charme do Yves Montand.
- E você tem a sensualidade da Juliette Binoche.
- A sua elegância só se compara à do Jean Paul Gaultier.
- Mesmo com essa minha camiseta furada embaixo do sovaco?
- Principalmente com ela.
- De manhã, a sua voz é musical como a da Edith Piaf.
- A sua é que é como a de Charles Aznavour.
- Você tem essa singeleza de ser da Audrey Hepburn.
- Mas a Audrey Hepburn não é francesa. Ela nasceu em Bruxelas.
- Bruxelas é só um bairro afastado de Paris, chérie.
- Você é tão engraçado. Engraçado e romântico. Parece um Serge Gainsbourg.
- E você diz frases que poderiam ter saído da boca da Simone de Beauvoir.
- Pra mim, você é o novo Jean-Paul Tartre.
- É Sartre.
- Sartre?
- Isso, Jean-Paul Sartre.
- Ah.
- Quando diz essas bobagens, você fica mais fofinha do que a Audrey Tautou em Amélie Poulain.
- E você, mesmo com essa horrível verruga na bochecha, ainda é o meu Alain Delon.
- Apesar desse seu tique de piscar o olho sem parar, você lembra a Isabela Adjani. De longe. Bem de longe.
- E você, careca e barrigudo, conseguiu conservar um quê de Yves Saint Laurent. Quando está de costas, é claro.
- Mas você não perdoa nada, hein? É direta como uma francesa.
- E você? E você? Grosso igualzinho aos parisienses.
- ...
- ...
- Je t'aime.
- Moi aussi. Apaga a luz, meu Dépardieu.
- Pô, Dépardieu é feio demais.
- Apaga.

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2. Des figures

Ela fazia palavras cruzadas. Ele olhava para o teto. Foi ele quem puxou o assunto.

- É o maior amor do mundo.
- O maior como?
- O maior.
- Maior que a torre Eiffel?
- A torre Eiffel é uma miniatura perto.
- Mais imponente que o império de Napoleão?
- Muito mais, muito mais.

Ela deixou as palavras cruzadas de lado. E esboçou um sorriso.

- Oh... Tão nobre quanto um bom vinho?
- Mais nobre do que a melhor safra do Châteauneuf-du-Pape. Não, mais nobre ainda do que um Romanée-Conti de 1961.
- Tão sofisticado quanto um prato de terrine de foie gras com trufas negras?

Ele continuou, com convicção.

- Um amor que merece três estrelas em qualquer guia Michelin.
- É tão lindo isso.
- Sempre soube que eles iam se casar. Eu vivia dizendo pro Julien que a Émilie era a mulher da vida dele. E taí o resultado.

Ela, com um ar romântico, quis saber deles.

- E o nosso?
- O nosso o quê?
- O nosso amor.
- O que tem?
- É grande como?
- Por que você não vai lavar a louça? Não tá vendo que agora estou ocupado?

E pegou as palavras cruzadas que ela tinha deixado em cima do sofá.

6 comentários:

Cláudio Lins disse...

Parece complicada essa história de amor aí na França, hein?

Camila Santos disse...

Muito bom esse blog.
Tô sempre por aqui.
Abraços!

Unknown disse...

...ai, que dúvida! qual dos dois ficou mais genial?! hummm, vou escolher os dois!!
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bj!

Jú Fuscaldi Rebouças disse...

E eu que sempre achei os franceses românticos...

Unknown disse...

Essa historia de romantismo francês fica mesmo só para os filmes... franceses.

Camila Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.