sexta-feira, 2 de julho de 2010

Massagistas

I.

Filha chegando, tese a escrever, viagem ao Brasil se aproximando, todo esse estresse reunido me rendeu uma cavalar dor nas costas, daquelas de entrevar qualquer um. Tava andando tão torto que chegaram a me confundir duas vezes com um dos zumbis do clip Thriller.

- Olha lá, mãe, uma homenagem ao Michael Jackson.
- Fala baixo, menino, não vê que o rapaz é empenado de nascença?

Sem escolha, fui ver um clínico geral, que é sempre o primeiro médico a se visitar na França.

- Rapaz, tu tá mais envergado que a torre de Pisa. Vou te prescrever 10 sessões de fisioterapia.
- Não seria mais eficiente passar por cima de mim um daqueles tratores de alisar asfalto?

Liguei pro fisioterapeuta.

- Pois não?
- Dóóói.
- Onde?
- Em mim.
- Em que parte, especificamente?
- Naquele trecho entre o topo da cabeça e a planta do pé.
- Vixe. Venha amanhã de manhã.
- Tá...a...ai.

No dia seguinte, quando fui pegar um ônibus para ir ao médico, o motorista tentou ser benevolente.

- Senhor, a entrada dos deficientes é pela porta de trás.

Já no consultório, o fisioterapeuta adotou o estilo pragmático.

- Você tem uma escoliose monstruosa.
- Precisa de palmilhas especiais.
- Tem que alongar todo dia.
- Suas costas estão em frangalhos.
- Tem que nadar.
- 36, você só tem 36 anos e já está assim?
- Fica de cueca e deita nessa cama, barriga pra baixo.
- Tem que sacodir esse esqueleto.

E aí ele começou uma sessão de tortura chinesa, apertando meus ombros, carateando a nuca, estapeando a bacia. Ia pedir pra ele arrancar minhas costas e devolvê-las mais tarde, retificadas, mas o sujeito me deu um fatality que me fez perder o rumo.

Na saída, perguntei seu nome.

- Sado.

Aí entendi tudo.


II.

Pior foi um amigo meu, de férias em Paris, que teve um torcicolo repentino e precisou urgentemente ver um fisioterapeuta (kinésitherapeute, em francês). Um conhecido, tentando ajudar, ligou pro que normalmente o atendia: “Já marquei sua consulta. É só você ir lá”.

O meu amigo foi. E voltou pro hotel revoltado.

- Pô, o cara me passou o endereço de um puteiro. Um esquema de sacanagem das brabas, maior rendez-vous. Olha isso.

E me mostrou a foto que ele tirou do letreiro do médico, essa aí embaixo.

Continuou com o pescoço doendo, mas a mulher dele morreu de orgulho do seu ato de resistência.


3 comentários:

Carol Nogueira disse...

Dani, aqui do lado de casa tem a Dra. Fedida! Juro!

Anônimo disse...

Hahaha! Adorei as histórias dos massagistas de nomes nada convencionais. Aliás... très sinistre!
Gostei do blog.
;)

Unknown disse...

Estava aqui pesquisando e quando vejo pouso neste blog.
Q prazer!
Adorei as histórias dos massagistas, adorei os posts de músicas...
Enfim. adorei, tbm, a acessibilidade garantida pelas duas versões (português, francês).Embora eu leia em francês.
Abraço ;)