sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Autour de Paris VII - Les Invalides


No vasto gramado dos Invalides, um bêbado de rua abria sua 3a garrafa de vinho e filosofava consigo mesmo, embaixo de uma árvore.

- Foi daqui que o povo, pê da vida, partiu pra derrubar a Bastilha. Eu não estava, acho que tinha ido à festa de aniversário do meu primo Sylvain, mas me contaram que foi uma confusão dos diabos. O povo estava brabo com os privilégios de uma tal burguesia que, se não me engano, era uma rainha sueca que inventou de mandar por aqui. Aí saiu todo mundo em marcha cantando La Marseillaise, o hino do Olympique de Marseille, que havia acabado de conquistar o seu primeiro campeonato de futebol. Coisa bonita esse hino, fala nos pilares da democracia francesa, as divisas da pátria, a tríade liberdade, igualdade, paternidade. É legal saber que a França assegura o direito a cada um de ser pai. Eu não quis ser, ao contrário do meu primo Sylvain, que quis e muito, tanto que teve uns 4 ou 5, cada um de uma cor diferente, coisa mais linda. Falando em cor, aqui nessa esplanada muito sangue vermelho foi derrubado. Eu faço questão de dizer que era vermelho, porque sangue azul só quem tem é nobre e barata. Sabe qual a diferença entre a barata e o nobre? Em um a gente pisa em cima, o outro pisa em cima da gente. Posso ser bêbado, mas sei do que falo. E todo esse sangue foi derrubado porque a rainha da França, Maria Madalena, maior megera, disse pro povo comer no McDonalds. Pô, McDonalds é caro, minha rainha, se liga. Não é à toa que ela foi apedrejada. E agora essezinho que tá aí, o Carla Sarkozy, ainda quer cortar as ajudas que o governo dá, o que deve levar o preço do Big Mac lá pras alturas. Meu primo Sylvain conta que sem a ajuda do governo ele não seria capaz de manter os filhos na escola e muito menos de abastecer seu Porsche. Meu primo Sylvain sabe das coisas, inclusive como enganar o governo. Mas isso não é problema, ele diz, porque a gente vem sendo enganado há tanto tempo, né? Dizem que tudo começou com aquele ator que virou presidente, o Napoleão, que está enterrado bem naquele prédio bonitão bem ali. Napoleão teria prometido casa, comida e uma pontinha em Hollywood pra todo mundo, o que, é claro, ele não cumpriu. Sabe o que eu acho? Que são todos uns doidos. Ainda bem que tem alguém como eu pra manter a sanidade desse país. Aliás, vou ligar pro meu primo Sylvain.
Esse texto faz parte da série "Autour de Paris", de crônicas dedicadas a cada um dos bairros da cidade. Para ler os outros, clique aqui.

3 comentários:

Mami disse...

Foi em Diamantina, onde nasceu JK, que a princesa Leopoldina arresolveu se casaar... Tá lembrado? Parece com o que você escreveu. Muito bom!!! Já ri muito.
Um beijão,
Mami

Camila Santos disse...

Muito, muito bom.

Ri litros.

Rodrigo de Assis Passos disse...

legal, gostei!