sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mais um roteiro para um filme (chato) francês


Mathieu, Arnaldo e Lucille caminham tranquilamente às margens do Sena, em uma tarde de outono. Mathieu e Lucille são parisienses e Arnaldo é brasileiro. É ele quem escorrega em uma casca de banana e despenca no rio, só tendo tempo de se agarrar a uma prancha de madeira que passava por perto.

Arnaldo – Ei, me ajudem, não sei nadar.

Mathieu – Meu são Sartre! Que coisa mais irresponsável, Arnaldô. Você deveria ter pensado nisso antes, deveria ter aprendido a nadar quando era tempo. Agora quer que a gente aja para remediar uma atitude que você não tomou.

Lucille – Tão brasileiro isso, Arnaldô...

Arnaldo – Me ajudem a sair, a água tá fria.

Mathieu – Mas é claro que a água está fria, estamos no outono. Acabaram as cerejas, acabou o calor, acabaram os sorrisos.

Lucille - Agora vamos todos nos fechar aos poucos em nossas individualidades invernais.

Arnaldo – Fechem-se, abram-se, tranquem-se, explodam-se. Mas me tirem daqui!

Mathieu – Não é tão simples, Arnaldô. Eu não tenho autorização para entrar nesse rio.

Lucille – Eu também não.

Arnaldo (já batendo o queixo) – Na...não têm o quê?

Mathieu – Autorização, Arnaldô. É preciso entregar um dossier e uma carta de motivação na prefeitura de Paris, explicando por que eu quero mergulhar no Sena. Com um pouco de sorte, a resposta sai em menos de 3 semanas.

Lucille – E não é certo que ela seja positiva.

Mathieu – Mas aí cabe sempre recurso.

Arnaldo (segurando-se à prancha com dificuldade) – Preciso de ajuda...

Lucille – Mas que vergonha, Arnaldô. Você só enxerga o próprio umbigo? A França precisa de ajuda, os pobres desse país precisam de ajuda, os desempregados precisam de ajuda. E você falando apenas do que você necessita?

Mathieu – Franchement, Arnaldô, está na hora de cada um de nós começar a pensar mais no coletivo.

Arnaldo (já engolindo água) – Me tirem... daqui...

Lucille – Arnaldô, é por causa de gente como você que esse país está afundando. Sempre “eu, eu e eu”.

Arnaldo (só com a boca de fora) – Rápido... (blub) Ajudem... (blub)

Mathieu – Voilà! Tive uma ideia brilhante para mudar essa situação!

Lucille – O que é?

Arnaldo faz um esforço para tirar a cabeça da água.

Mathieu – Uma ação conjunta.

Lucille – E o que seria? Juntarmos nossos cintos e fazermos uma corda para resgatar o Arnaldô da água?

Arnaldo batalha para se agarrar novamente à prancha.

Mathieu – Melhor, Lucille, muito melhor.

Lucille – Você me segura pela cintura enquanto eu me inclino para puxar o Arnaldô?

Arnaldo, olimpicamente exausto, levanta a mão, esperando o socorro que irá salvá-lo.

Mathieu – Ainda melhor.

Lucille – E o que é, Mathieu?

Mathieu – Vamos fazer uma passeata para reclamar das condições de higiene da nossa cidade. Onde já se viu, cascas de banana no chão em plena Paris? Imagina se sou eu quem tropeço e caio nesse rio?

Lucille – Ou eu?

Mathieu – Marchons!

Lucille – Allez!

Arnaldo – Blub...


Leiam aqui o primeiro roteiro para um filme (chato) francês

3 comentários:

Camila Santos disse...

Gostei muito dos dois roteiros. Talvez até mais desse segundo. Seria muito bacana se você filmasse isso, hein?

Fábio disse...

Já eu gostei mais do primeiro, mas esse aqui tb é divertido.

Carol disse...

Sempre adoro TUDO o que vc escreve!!!